
Há pouco tempo ouvia uma entrevista num podcast, onde uma artista conhecida dizia que “fazer terapia é gostar de si mesmo”. Fixei-me nesta frase por momentos e depois por muitos dias, esta frase continuava a aparecer como uma sinalética na minha cabeça. O que pode parecer um conceito demasiado banal numa frase simples, tem na realidade um impacto muito mais forte quando se tenta ir a fundo nesta questão.
Na realidade, este parece um conceito “gasto” quando vemos testemunhos de pessoas mais ou menos conhecidas, a falar sobre saúde mental e do estigma que continua a incidir nesta questão.
Mas retomando à frase original, porque razão “fazer terapia é gostar de si mesmo” ou até, porque ainda há tanta gente a achar que “eu não preciso” mas “posso recomendar um/a psicólogo/a muito bom/a”, ou seja “muito bom” mas “não para mim porque não preciso”… Isto é justificado em grande parte pela resistência que a dada altura todos fazemos para driblar os nossos problemas, que mais ou menos vão e vêm como as ondas do mar. Com tudo o que nos cai no colo a todo o momento, é preciso uma grande ginástica para não adoecermos, seja no corpo físico, psíquico, espiritual...
Existem vários estudos e teorias que sustentam a ideia de que, antes da doença ser no corpo físico, já estará instalada na nossa psique/mente, de modo latente se não evidente, e o tempo de se manifestar só depende da nossa atenção, ou seja da consciência de nós para desenvolvermos maneiras saudáveis de lidar com a vida e os seus desafios.
Não querendo entrar em generalizações, e se isto serve de ajuda para decidir o início ou o ponto de partida para iniciar um processo terapêutico, fica a ideia de que por muitos livros que se leiam ou cursos que se frequentem, ou experiências (marcantes ou insignificantes), dificilmente se consegue “bater bolas” sozinho, e ter disponibilidade mental para explorar os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos, do que fazer este processo através duma relação terapêutica. É garantidamente muito mais fácil!
Sendo o Homem um “animal social” por natureza, isto significa que os seres humanos precisam de viver e interagir em sociedade, partilhando laços sociais, normas, valores, colaborando para atender às suas necessidades, por exemplo a necessidade a um grupo de pertença, a comunicação, a cooperação, a aprendizagem, a inteligência social e o desenvolvimento emocional, a organização e por conseguinte a criação duma identidade cultural.
Não nascemos pessoas, mas tornamo-nos pessoas foi a ideia que o Psicólogo humanista Carl Rogers preconizou, ele fundador da terapia centrada na pessoa (cliente). Rogers disse que não podemos mudar, não nos podemos afastar do que somos enquanto não aceitarmos profundamente o que somos, acreditando que o paciente traça o seu próprio caminho na autoaceitação, tendo o psicólogo como guia. Isto é o que deve acontecer de certo modo em qualquer relação terapêutica, independentemente da abordagem seguida. O pretendido é o desenvolvimento de uma maior autoestima e autoaceitação, bem como a superação de desafios emocionais.
A terapia pode ajudar a promover o autoconhecimento, a resiliência emocional e a construção de relacionamentos mais saudáveis. Também pode ser benéfica para lidar com questões como ansiedade, depressão, stress e traumas passados, dificuldades de relacionamento e outros desafios emocionais. Entretanto, é importante observar que o processo terapêutico pode variar de pessoa para pessoa, e o resultado desejado pode ser diferente para cada indivíduo. Algumas pessoas podem fazer terapia para resolver problemas específicos, enquanto outras podem desejar um espaço para auto-exploração contínua e crescimento pessoal.

Será que sabemos o que é realmente gostarmos de nós mesmos, sem automaticamente ligarmos ao significado da palavra egoísmo?!
Raquel Caldeira
Psicóloga Clínica
Comments